terça-feira, 4 de novembro de 2008

Unzelte: Times dependem de um mecenas

Por Danilo Sardinha

Os estádios estão precários, os clubes arruinados e as equipes fracas. Atualmente, essa é a situação do futebol no interior paulista: sem graça para muitos torcedores. Porém, há quem ainda goste de prestigiá-lo.

Uma dessas pessoas é o jornalista Celso Unzelte, da ESPN Brasil, que concedeu entrevista ao Informativo da Águia. Unzelte, que também é autor do “Almanaque do Timão” e do “Livro de Ouro do Futebol”, comentou a situação do futebol no interior paulista. Um bate-papo imperdível!

Informativo da Águia – Celso, como você vê a atual situação do futebol no interior paulista?
Celso Unzelte: Com muita tristeza. E saudade. Saudade de grandes times como a Ferroviária de Araraquara, Inter de Limeira, São José e Bragantino, por exemplo, que ganharam ou chegaram a disputar o Paulistão brigando de igual para igual com os grandes.

IA – Quais foram as melhores equipes do interior paulista que você viu jogar? Por quê?
C: Quanto às melhores equipes do interior que vi jogar, acho que nada até hoje bateu o Guarani de 1978, tanto em termos de resultado quanto do período de tempo (1978 a 1982) que a base daquele time jogou um bom futebol: Neneca, Mauro, Gomes, Édson e Miranda; Zé Carlos, Renato e Zenon; Capitão, Careca e Bozó.

IA – Quais são os fatores que impossibilitam um clube do interior permanecer na elite por muito tempo?
C: Os clubes do interior sofrem do mesmo mal que os grandes: não são geridos profissionalmente. Só que os grandes têm condição de ir empurrando os problemas com a barriga, e os clubes do interior não. Eles dependem demais de um mecenas, que pode ser uma pessoa física ou a própria prefeitura. Quando esse mecenas não se interessa mais em colocar dinheiro, o clube afunda. Cadê o Novorizontino sem a família De Biasi? O Bragantino sem os Chedid? O São Caetano sem o Tortorello?

IA – O que é preciso um clube do interior fazer para conseguir se destacar no futebol paulista?
C: Primeiramente, adotar uma gestão profissional. Seria importante também que a Federação Paulista de Futebol transformasse a atual Copa Paulista (ex-FPF) em um verdadeiro e rentável Campeonato do Interior, que é o terceiro maior mercado consumidor deste país. Se o é em todo o tipo de produto, por que não pode vir a ser quando o assunto é futebol?

IA – Como deve ser a administração de um clube do interior?
C: Acho que a administração de clube do interior deve ser a mesma da capital: profissional, respeitando as características da cidade e da região, mas, acima de tudo, profissional.

IA – O que você acha das tercerizações e a formação de clubes empresa?
C: Acho as terceirizações são um passo importante para a transformação definitiva dos clubes em empresas. Mas no Brasil ninguém quer aprender com as parcerias. Quer é sugar o máximo e depois “dar um pé na bunda” do parceiro, para usar uma expressão dos próprios dirigentes.

IA – Na sua opinião, quais são os melhores clubes do interior paulista? Por quê?
C: Infelizmente as boas experiências profissionais no interior têm durado apenas o tempo dos interesses dos parceiros. No momento, eu destacaria a experiência feita na Ferroviária de Araraquara, que ao transformar-se em S/A pelo menos viabilizou a continuidade de sua existência.

PRÓXIMO CAPÍTULO
Uma alternativa encontrada por alguns clubes para mudar esse cenário é a terceirização. No entanto, é um processo que requer cuidado. Na próxima quarta-feira, o jornalista do jornal Folha de S.Paulo, José Roberto Torero, e o advogado especialista em direito desportivo, Felipe Legrazie Ezabella, debatem esse tema na série “Dôssie Interior”. Não perca!

[Atenção: conteúdo exclusivo do INFORMATIVO DA ÁGUIA]

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