segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Memórias em 15 polegadas

Por Danilo Sardinha

O campo de futebol encolheu para uma tela de computador. Os gritos da torcida passaram a ser ecoados pelas caixinhas de som. E aquele grande lance só pôde ser visto depois que a palavra “loading” (carregando) desapareceu do monitor.

Essa é uma nova forma de assistir partidas de futebol. Muito menos emocionante, claro, mas foi o jeito encontrado pelos torcedores de clubes do interior para assistirem aos grandes jogos dos times de coração. Se ao vivo a situação está ruim, a melhor forma é recorrer aos vídeos antigos que estão disponíveis na internet.

— A situação do futebol no interior paulista me parece precária há vários anos. Os casos de sucesso são como "espasmos", que não se sustentam ao longo do tempo. Os clubes não têm estrutura, projeto, estratégia. Eles continuam reféns de grupos políticos – cujos interesses nunca são o bem do esporte – opina Mauro Tagliaferri, repórter da Rede Record de Televisão.

Os clubes pequenos pioraram com a chegada de uma nova mentalidade no futebol. Com uma gestão, em tese mais profissional, as equipes foram obrigadas a investir em outras áreas, como o marketing, categorias de base etc. É uma mentalidade difícil de ser seguida por times com as contas no vermelho.

— A lógica da bola passa a ser a lógica da grana. Ganha mais quem fatura mais dinheiro. Fica difícil concorrer com as verbas milionárias dos grandes clubes, todos eles localizados nas capitais, onde há maior concentração urbana. Isso dá mais torcida a esses clubes e, conseqüentemente, mais dinheiro – afirma jornalista Erich Beting, que é colunista do “Diário Lance!” e editor executivo do site “Máquina do Esporte”.

Em meio a esse “novo futebol”, importado do exterior, os times pequenos, atolados em dívidas, sentem-se desamparados. A falta de um projeto de incentivo da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para esses clubes é um dos motivos para situação chegar nesse ponto.

Em conseqüêcia disso, manter-se na elite do futebol paulista não é uma tarefa fácil para os times do interior. O constante vai-e-vem entre a Série A-2 e o Paulistão é uma prova. São raros os clubes pequenos que não entram nessa gangorra. Somente aqueles que pregam uma administração profissional ficam fora dessa.

— Talvez o que mais se destaque hoje seja o Guaratinguetá. E, principalmente, porque ele atua pensando numa gestão racional, sem se preocupar em ter o melhor desempenho a qualquer custo. Isso foi o que ajudou a derrubar gigantes do passado, como Guarani, Inter de Limeira, Bragantino, Mogi Mirim etc. Hoje são poucos os clubes que se destaquem por pensar de uma maneira mais empresarial. Talvez o Guará seja o mais eficiente nesse sentido – diz Beting.

Mas, enquanto a filosofia de trabalho nos clubes do interior não mudar, o jeito é vestir a camisa do time de coração, comprar aperitivos, e sentar em frente ao computador para esperar o jogo começar, ou melhor, carregar.

PRÓXIMO CAPÍTULO
O Informativo da Águia trará para você, na próxima terça-feira, uma entrevista exclusiva com o jornalista Celso Unzelte, da ESPN Brasil. Amante e historiador do futebol, Unzelte comenta a situação atual do futebol no interior paulista. Não deixe de conferir!

[Atenção: conteúdo exclusivo do INFORMATIVO DA ÁGUIA]

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Danilo,

parabéns pela matéria. Muito boa... e para ilustrar isso são muitos os exemplos: Araçatuba, Matonense, Novo Horizontino, São Carlense... etc.
Talvez seja legal também abordar as maneiras com que os clubes do interior estão buscando alternativas para sair do buraco, como o São José e o XV de Piracicaba por exemplo, que tem as associações de amigos colaborando de forma permanente e direta na administração do futebol.

Celso Gomes

Danilo Sardinha disse...

Oi, Celso!
Obrigado pelo elogio. Alguns capítulos do especial irão mostrar algumas alternativas encontradas por clubes do interior para sair do buraco. Vale a pena esperar!
Abraço

Danilo Sardinha