Um aniversário divino

Recebi por esses dias um misterioso e-mail escrito em letras vermelhas. O remetente pedia que eu colocasse seu texto neste blog. Num primeiro momento decidi não atendê-lo, mas, quando li seu endereço virtual (deus@ceu.com), julguei ser mais prudente ceder o espaço. Eis o texto:

Caro blogueiro. Ordeno que você publique essa carta na próxima quinta-feira, dia 13 de agosto. O motivo é muito simples: é o dia do aniversário do Meu time de coração, o São José Esporte Clube.

Essa é a primeira vez que Me manifesto a esse respeito e espero não estar magoando torcedores de outros times, principalmente os do São Paulo, São Caetano, Santo André ou – Meu filho que Me perdoe – do Santa Cruz.

Acontece que o São José é o meu favorito. Além disso, seu uniforme é todo azul e branco, e, como todos sabem, essas são as cores preferidas por aqui.

O São José foi fundado no “Dia do Azar”. Sei que isso foi uma grande desgraça para vocês aí embaixo, mas eu os compensei com a criação de times divinos. É como se diz: quando Eu fecho uma porta, abro uma janela.

São muitos anos de arte, vitórias e gols, desde os primeiros de Bolacha e Zé Luiz Pantera, até chegar ao inesquecível trio Edinho, Tião Marino e Nenê, que nos deu muitas alegrias nos anos 80.

E como esquecer de Tatá, Renato Santiago, Toni, autores de jogadas divinas, dribles celestiais e gols tão lindos que às vezes até Eu duvido?

Mas o melhor de tudo foram os anos 80, com Tonho, Darcy, Walter Passarinho, Ademir Gonçalves e Nelsinho; Ademir Mello, Tatá e Esquerdinha; Edinho, Tião Marino e Nenê. Eu do céu!, essa escalação é tão musical quanto um acorde de harpa!

Aliás, por que vocês acham que Tião Marino foi jogar no São José? É que de vez em quando a gente tem que dar uma mãozinha.

Tudo bem que, de vez em quando, a fase fique mais com cara de purgatório do que de céu, mas se Eu quiser – e Eu quero! –, logo, logo as coisas vão entrar nos eixos. Confiem em Mim, não demora e o São José vai ser campeão novamente.

Que Eu vos acompanhe, amém.

O Altíssimo.

Adaptação feita de um texto de José Roberto Torero, originalmente publicado na Folha de S. Paulo, em 1998, e, posteriormente, incluído no livro “Os cabeças-de-bagre também merecem o paraíso”.
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